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UMA VIAGEM AOS MEANDROS DO INFERNO VERDE NOS ANOS DE INAUGURAÇÃO DO HOTEL AMAZONAS Planos discursivos da campanha publicitária na revista “O Cruzeiro” 1950-1951
O trabalho tem como objectivo desenvolver uma reflexão
crítica sobre a temática ambiental na esfera do discurso da arquitectura e construção,
a partir da fórmula “Inferno Verde”, uma designação da floresta da Amazónia
proveniente do discurso literário. O objecto de análise incide sobre a campanha
publicitária de um hotel em Manaus na década de 1950, examinada segundo o dispositivo
teórico-metodológico da análise de discurso de vertente enunciativa,
acionando-se um procedimento fundado por uma semântica global. De entre os
diversos planos discursivos, objecto de integração nesta análise, destacam-se as
noções de intertextualidade, interdiscurso e ethos discursivo, como propostos
por Dominique Maingueneau. A investigação realizada incide sobre dois
iconotextos selecionados dessa campanha, publicados numa revista ilustrada de
grande tiragem em 1950 e 1951, colocando em confronto os efeitos de sentido
pretendidos e produzidos, com as condições e instâncias de enunciação. Os
resultados salientam as tensões existentes entre sentidos e discursos
contrários bem como a utilização na sua retórica da fórmula Inferno Verde como simulacro.
Simultaneamente que é engendrada a ilusão de imersão do objecto arquitectónico num
universo natural inóspito, é também recriado um simulacro desse próprio espaço,
junto do qual o hotel ganha atractividade por constraste e distanciamento, e o
qual, quando perpetuado como contaminante no discurso da modernidade condiciona
o entendimento do ecossistema natural apenas como paraíso tropical enquanto murado,
domesticado e em suma, urbanizado.