Picumã: Performance Drag Queen em uma Epistemologia Decolonial
A prática drag queen diz respeito a um processo de adequação que desloca a aparência corriqueira de uma pessoa para uma outra que pode transitar entre gêneros (masculino, feminino, polimorfo, diversos) e espécies (humano e animal, como é o caso de drags que se apresentam como animais e até alienígenas). O presente trabalho tem por objetivo observar e participar dessa prática na cidade de Fortaleza – CE com intuito de absorver seus processos de criação, adaptação, montagem e desmontagem. Entender as mutações as quais essa prática está sujeita, as influências externas e a capacidade de adaptação das drag queens estudadas. Usar lentes analíticas que possibilitem enxergar as práticas através de uma epistemologia da performance que leve em consideração a decolonização do pensamento e a apreensão crítica da tradição científica europeia. O estudo se configura por meio de uma experiência etnográfica embasada no exercício da descrição densa e de entrevistas pontuais. Os registros foram feitos mediante diário de campo, fotografias, vídeos e gravador de voz. Concluiu-se que a prática drag queen na cidade de Fortaleza – CE passou e passa por mudanças constantes no que diz respeito à tradição e ao surgimento de novas formas de fazer drag. Formas essas impactadas pelo reality show americano RuPaul’s Drag Race e sua tendência de transformação da drag queen em um produto passível de ser comercializado mundialmente através da TV. Observou-se ainda que, ademais da forte influência trazida por esse reality show, o contexto local tem se mostrado resistente às tentativas de suplantação da tradição, tendo como elementos de resistência o bate- cabelo e o dialeto yorubá que se contrapõem à força histórica de opressão conhecida como colonização.