ENTREVISTA QUALITATIVA COM PESQUISADORES BRASILEIROS EM PSICOTERAPIAS ASSISTIDAS POR PSICODÉLICOS
O crescente interesse na psicoterapia assistida por psicodélicos demanda uma melhor compreensão dos benefícios dessa abordagem tanto para pacientes saudáveis como para indivíduos com diagnósticos de transtornos mentais complexos que não respondem bem a terapias medicamentosas e psicoterapias convencionais. O objetivo desta pesquisa é explorar a compreensão dos pontos de vista, experiências e potenciais barreiras enfrentadas por pesquisadores e profissionais da saúde envolvidos em ensaios clínicos com psicodélicos e as práticas associadas à integração psicodélica. Optou-se pela pesquisa de campo no intuito de buscar a informação diretamente com a população pesquisada, através de uma abordagem qualitativa e exploratória. Considerando o número restrito de profissionais de saúde brasileiros da área, a amostra intencional foi constituída selecionando participantes de diferentes áreas profissionais para garantir um maior espectro de perspectivas sobre o tema, sendo que o fechamento foi determinado pelos participantes que responderam o convite. Quatro participantes foram selecionados, sendo duas psicólogas, um médico e um biólogo com experiência prática em pesquisas com psicodélicos e/ou integração psicodélica. Para alcançar o objetivo da pesquisa foi aplicado, junto aos participantes, um questionário sociodemográfico e uma entrevista semiestruturada. Para análise dos dados utilizou-se o método de Análise de Conteúdo de Laurence Bardin (2016). Os resultados foram agrupados em três eixos: o primeiro, desafios éticos e legais, inclui questões como a burocracia para autorizações, falta de familiaridade com as regulamentações, apropriação cultural, representatividade racial e indígena, e barreiras financeiras; o segundo, práticas clínicas em psicoterapia assistida por psicodélicos, abrange a necessidade de supervisão e triangulação, preparação estrutural e suporte psicológico, desenvolvimento de protocolos específicos de psicoterapia e treinamento de profissionais; e o terceiro, desafios metodológicos em pesquisa, aborda as dificuldades com o cegamento, alternativas ao modelo duplo-cego e o paradigma psicodélico. Concluímos que, para o avanço da pesquisa com psicodélicos no Brasil, é essencial reduzir as barreiras burocráticas e adaptar a regulamentação, tornando o processo mais ágil e acessível. Além disso, é fundamental adotar uma postura ética que valorize e respeite os saberes indígenas, garantindo que essas comunidades sejam beneficiadas e não exploradas. A inclusão de minorias raciais também é um ponto crucial, de modo que os 5 avanços cheguem a todos. Para isso, a colaboração entre setor público e privado pode mobilizar recursos e viabilizar pesquisas, enquanto a formação e supervisão dos profissionais envolvidos asseguram um cuidado seguro e eficaz, com o objetivo de, no futuro, integrar esses tratamentos ao sistema de saúde público de forma ética e acessível.