Acesso à quimiodiversidade e atividades biológicas dos fungos Fusarium guttiforme e Fusarium proliferatum utilizando cocultivo
O cocultivo de fungos é uma técnica utilizada para induzir e expandir a quimiodiversidade dos microrganismos devido à ativação de vias biossintéticas que levam a novos produtos naturais não produzidos em linhagens axênicas. Desta forma, este trabalho investigou os fungos Fusarium guttiforme (F1) e Fusarium proliferatum (F7), ambos invasores do abacaxi, através do seu cultivo em meio de arroz e ISP2M1 e cocultivo. Foram realizados cultivos axênicos e cocultivo desses fungos e os extratos foram fracionados por técnicas cromatográficas e analisados por RMN de ¹H. Foram conduzidos ensaios biológicos para avaliar a atividade antifúngica, antiprotozoária e inibidora de papaína. O ensaio antifúngico por diluição em ágar revelou uma atividade da fração de F7 contra F1 em 62%. Os extratos de cultura axênica de F7 e F1 revelaram atividades antifúngicas de 38% e 11% de inibição contra Colletotrichum horii, respectivamente, ao passo que o cocultivo de F7 e F1 aumentou a atividade antifúngica em até 86%. No ensaio antifúngico por diluição em caldo, algumas frações inibiram o crescimento de leveduras do gênero Candida sp. Os extratos brutos axênicos e do cocultivo do meio de arroz e ISP2M1 foram testados frente à inibição de papaína (100 µg/mL), no qual apenas os extratos do meio de arroz foram ativos, destacando-se a atividade do F7 de 87,8%. Além disso, esses extratos e as frações da CLV em meio de arroz também foram testados contra os protozoários Trypanosoma cruzi e Leishmania infatum. As frações das CLVs 4, 5 e 6, tanto do cultivo axênico de F. proliferatum (F7), como do cocultivo atingiram 100% de inibição (20 µg/mL). A abordagem metabolômica utilizou as técnicas de RMN de ¹H e LC-HRMS para analisar a quimiodiversidade induzida pelo cultivo axênico e pelo cocultivo desses fungos, revelando que os extratos de ISP2M1 particionados com n-butanol apresentaram maiores concentrações de compostos de baixo peso molecular, enquanto os extratos de arroz mostraram predominância de compostos de maior peso molecular (entre 700 e 900 Da). O processo de desreplicação, juntamente com a MVA, possibilitou a anotação de cinco metabólitos discriminantes no meio de arroz, como subglutinol A e beauvericina, encontrados predominantemente no extrato axênico de F. proliferatum (F7), e samroiyotmicina A, mais intenso no extrato de cocultivo. O extrato fúngico obtido com AcOEt no meio ISP2M1 revelou 21 compostos, embora apenas um tenha sido de origem fúngica. Por outro lado, o extrato particionado com n-butanol revelou metabólitos anteriormente detectados em maior concentração no extrato axênico de F. guttiforme (F1), identificados como pulchellalactam, ácido desidrofusárico e ácido fusárico. A análise de RMN de ¹H mostrou que as frações de CLV apolares apresentaram predominância de lipídios, enquanto as frações de polaridade média exibiram a presença de compostos fenólicos.